O Preço da Morte
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O Preço da Morte



Já falei em algum post anterior que adoro cemitérios. Então juntei a adoração com a fotografia. O resultado está no álbum do Flickr, logo ao lado. Antes de mais nada, temos que saber a diferença entre preço e valor. Preço é a expressão monetária de um bem, ou seja, a quantia em dinheiro que uma determinada mercadoria pode ser vendida. Valor é tudo aquilo que é importante para vc, satisfazendo suas necessidades, seus desejos, desde o aspecto psicológico até o de auto-realização, afirmação ou ostentação, independente do preço. Quanto vale sua vida, para que seja calculado o preço de sua morte?

Todas as vezes que entrei em um cemitério eu me perguntava a mesma coisa. E não foram poucas as vezes que isso aconteceu. As fotos foram tiradas num cemitério simples próximo onde moro em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. Alguns cemitérios, como o São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul, ou o Cemitério do Caju, o maior da cidade ou do estado do Rio, possuem verdadeiros colossos monumentais erguidos a forma e magnitude da importancia que a pessoa teve em vida, ou da quantidade de dinheiro que sua familia pode pagar. Em cemitérios como o do São João Batista, o que mais se encontra são mausoléus, "casebres" de mármore onde os membros de uma mesma família estão enterrados (casebre é uma ironia. Os mausoléus de hoje parecem Templos da Grécia Antiga ou o World Trade Center). No cemitério de Jacarepaguá existe uma área só para indigentes. Como o de lá está lotado, vc vê cova de indigentes por toda a parte (Cidade de Deus é o maior barato!).

Dinheiro, status, prestígio, ostentação, cargo, patrimonio, fortuna, bens, auto-afirmação, poder.
Nada disso fará a menor diferença após a morte. Porque então se apegar tanto a isso como uma forma de carregar metade deles para o além-vida? Essas ultimas semanas, tive experiencias, relatos e fortunios de fé, de pessoas que me enchem de orgulho pela maneira de manter equilibrada sua vida material e espiritual de forma sublime. Nossa vida se esvai, como um sopro no ar, de forma passageira, rápida, imperceptível, e aquele momento, normalmente os menores, que constroem numa complexidade quantica, um momento completo, sempre são os que fazem a diferença, os que viram histórias e estórias, causos, lembranças. A vida é feita de momentos. No fim, são eles q devemos dar o devido valor. Faça com que cada um deles sejam importante para vc e para qq um que faça parte dele. Pode ser o último...

No fim das contas, é para isso que cemitério me serve. Para nunca esquecer disso. Em contrapartida dos monumentos em homenagem aos mortos, para os que querem "eternizar", existem o resultado da ação humana. Túmulos depedrados, destruídos, violados, roubados, invadidos e vendidos. Um cenário ótimo para terror. Imagina, eu detesto filmes de terror! ;-) Uma estátua de Nossa Senhora apodrecida, cinza e sem vida; anjos despedaçados; uma estátua do Cristo sem cabeça; um druida (???) sem os dedos; sepulturas com tampos de mármores carrara quebrados (essa deu trabalho); restos de comida dentro das sepulturas; placas folheadas a ouro com o nome dos mortos, roubadas; assinaturas do morto na sepultura (!!!), no mínimo de bronze, roubada; mausoléus invadidos e tornando o abrigo perfeito para uma soneca após o almoço (tinha quentinhas amassadas no chão); uma estátua do tamanho NATURAL de Jesus Cristo em uma sepultura (pesa uns 200 kg, não dá para roubar); até um placa de mármore gigantesca onde representa a "Porta do Paraíso onde fulano encontrará com Jesus". Adivinha? Roubaram a Porta do Paraíso!!!! Geral vai invadir! Valeu de alguma coisa?

Se meus filhos ou meus pais verão minha morte, só Deus sabe! Agora ninguém me enterre! Infelizmente nossa cultura judaico-cristã prega por esses tipos de rituais. Para que? Vai deixar flores para carne morta? Vai fazer uma oração e conversar com um pedaço de pedra? Nada disso! Minha concepção de morte vai muito mais do que gastar c enterro e preservar o tumulo. Queima isso tudo num necrotério e acabou. É mais caro? Provavelmente, mas termina e paga de uma vez só. Ou então, ainda mais nos dias de hoje, divide em 12 vezes sem juros no cartão com a 1º parcela para depois do Carnaval (se eu morrer hoje, no caso!). Xi, não tenho cartão, meu nome tã no SPC. Corta os membros, amarra tudo no tronco com um papel de embrulhar pão, joga na fogueira e pronto! Jazigo Perpétuo? Puta q o pariu! Imagina todo ano pagar para mantê-lo! Porque não coloca o corpo num frigorífico, é mais barato! Mas frigorífico perpétuo não faz parte da cultura...

Em meado de novembro completou 1 ano da morte de minha avó. Diferente dela, não fui a cemitérios. Fiz um trekking em Niterói. No fim das contas, essa deveria ser a atitude conclusiva em relação a espiritualidade. O espírito "vive" de memórias, não de sepulturas.

Para que eu vou a um cemitério, me aproximar de um corpo destruído pela terra, se posso ir a uma montanha e ficar mais próximo do céu?




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