ENTENDENDO O USUÁRIO DE DROGAS (IV)
Esquizofrenia

ENTENDENDO O USUÁRIO DE DROGAS (IV)


PORQUE DEPENDENTES MATAM OS PRÓPRIOS PAIS ?



Não são poucos os casos de telejornais mostrar usuários de drogas matando membros da sua família (na maioria das vezes os pais), na tentativa de arrumar dinheiro ou aparelhos domésticos, para vender e comprar mais drogas.  À princípio uma atitude padrão, se considerado apenas a influência da droga como motivadora do crime. Mas esse problema não acaba aqui.

Já foi dito em outros artigos, aqui mesmo neste blog, que muitos dos traumas dos filhos são adquiridos ainda na infância e que à partir daí é formada uma concepção em relação aos pais ou o ambiente familiar, geralmente negativa, que doravante a família passará à endossar (por conflitos constantes) ou contestar (por trato afetivo e acolhedor).

Em geral acontece mais a primeira opção, ou seja, a família conflituosa, que leva os filhos a adquirir comportamentos mais arredios, como mecanismos de defesa e instinto de sobrevivência.  Ao experimentar uma droga, como a cocaína por exemplo, a dependência é praticamente instantânea e a primeira coisa que a droga faz é arrombar o emocional do seu hospedeiro e solta tudo que até então estava guardado e reprimido,  assumindo assim o lugar de forma quase que absoluta.

À partir de agora quem manda é o “inquilino” do emocional, que é a droga e as lembranças negativas emergem para o consciente, predominando sobre o poder de decisão, alimentado agora pelo poder da dependência.  Uma mistura explosiva, porque o que vem na mente agora são as discussões e as ofensas dos pais e a necessidade de revide (processo natural até mesmo para uma criança), até então reprimido pelo controle do seu estado consciente, mesmo quando sob pressão.

Mas agora este poder foi neutralizado por causa da droga, deixando fluir livre o desejo de revide, que poderá (condicionado às circunstâncias presentes), partir pra cima do seu maior algóz (ainda que os pais ou responsáveis).  São circunstâncias relacionadas ao grau de influência da droga, tempo e quantidade de consumo, mais a forma de abordagem de quem deseja matar (se necessário), por dinheiro ou algo de valor para ter mais drogas.

Mas não é só isso.  Não justifica matar os pais ou a família apenas para obter mais droga.  Como é antiga (desde a infância) a concepção negativa em relação ao pais (em geral, apenas um deles), existe também desde a infância o desejo de revide dos maus tratos recebidos e que, em razão de ainda existirem, apesar do tempo, a criança dentro do jovem (e que todos nós temos) decide destruir o seu algóz antes, dentro de si, fazendo com que o corpo obedeça à esta ordem, matando com a mesma simplicidade com que se rasga a foto do pai (ou da mãe), fazendo parecer, perante a opinião pública, como uma atitude fria, calculista e perversa, quando na verdade foi uma ação quase inconsciente.

Caso semelhante do menino Marcelo, de 13 anos, que matou o pai e a mãe (policiais), a avó e a tia-avó, num bairro da zona leste de São Paulo.  E nem estava drogado.

Como numa espécie de “ressaca”, ou seja, sem que o jovem tenha plena consciência dos atos (drogado ou não), ele parte pra cima para desferir o golpe letal, que satisfará o plano do seu lado interior e inconsciente que, após constatado a morte, se dará por satisfeito, caindo no jovem o pano da inconsciência, dando este, conta do que fez e questionando-se ininterruptamente como foi capaz de fazer tal coisa, tão logo entre novamente na fase de abstinência, com parcial consciência dos atos.

Em outras condições menos conflituosas, este risco de morte diminui de forma drástica, pois mesmo sob forte influência de drogas, pois que o usuário não terá em si, lembranças que venham à motivá-lo de praticar algum ato mais nocivo contra seus familiares, por mais forte que seja a abstinência, praticando apenas pequenos furtos para adquirir mais drogas.

Havendo a oportunidade, o crime ocorre, na verdade, por uma combinação de eventos num dado momento, responsável por desencadear atitudes imprevisíveis e involuntárias, proporcionais à uma forma de vida constante e com certos padrões de tempo e convivência.  Ou seja, pode acontecer com qualquer um à qualquer tempo.

Só o diálogo pode ser a melhor medida preventiva, para se corrigir concepções erradas e distorcidas que, se alimentada, pode causar sérias consequências, tanto de forma isolada para os filhos, quanto de forma coletiva, para a família.

                                                                Amadeu Epifânio



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