Jorjão era um cara deficiente (obeso e neuropsiquiátrico), que fazia drama com as situações mais banais do nosso cotidiano, como cair em prantos com a morte da sua asquerosa (sua barata de estimação). Sua mãe, que já conhecia bem suas psicoses, mal dava importância.
Certa manhã, a mãe de Jorjão saiu cedo para fazer compras, pois não gostava de enfrentar filas, deixando Jorjão ainda dormindo. Quando voltava para casa, percebeu uma aglomeração de pessoas em frente à sua casa e de cara, já desconfiando que tivesse algo à ver com seu filho.
Uma das vizinhas veio correndo na direção de dona Geralda, gritando:
- Comadre, comadre, depressa, venha logo !!
- Calma mulher, o que é que houve ? (responde dona Geralda).
- Tá se ouvindo gritos lá de dentro da sua casa.
- Da minha casa ? Que gritos ?
- Alguém lá dentro está chamando alguém de assassino. Já chamei a polícia.
- Você fez o quê ?
- Chamei a polícia, houve uma morte lá dentro, criatura.
A vizinhança inteira na maior euforia, só querendo ver o circo pegar fogo, pra ter assunto para o resto do mês. Ninguém na rua sabia do problema mental do Jorjão, pois dona Geralda o mantinha dentro de casa, justamente para evitar problemas, pois já fora forçada à mudar de casa duas vezes, por causa dos ataques do Jorjão e é óbvio que ninguém, da nova vizinhança, ainda sabia disso, o que só fazia aumentar a falação.
Dona geralda despediu-se da vizinha que chamara a polícia e entrou. Ao entrar, viu Jorjão deitado no chão, em prantos sobre o tapete e perguntou:
- O que houve agora filho ?
- mataram ela mãe, mataram ela. ( e caía aos prantos).
Quando dona Geralda chegou mais perto, viu do que se tratava. Jorjão estava com a cara bem encima de uma barata morta e esmagada no chão, pisoteada por um “suposto assassino”. Dona Geralda, desconcertada e envergonhada, tentava ensaiar alguma coisa para se desculpar com os policiais, pelo alarme falso.
Os policiais chegaram e foram logo chamando a moradora. Antes que dona Geralda saísse completamente de casa, os dois policiais, de olhar soberbo, praticamente empurraram dona Geralda de volta pra dentro de casa e começaram a fazer uma série de perguntas e com o nariz todo empinado de soberba. Dona Geralda, percebendo a arrogância, ficou na dela e não se preocupou mais em desmentir o dito assassinato. De repente chega na sala, Jorjão, com o rosto em prantos e se dirige aos policiais:
- Vocês vão prender quem fez isso com ela, não vão ?
- Fique tranqüilo que vamos pôr o meliante na cadeia.
- Não senhor, eu quero quem fez isso com ela.
- É justamente do que eu estou falando. Como era a vítima ?
- Uma barata. (Responde dona Geralda).
- A senhora quer dizer como uma barata.
- Não senhor, uma barata mesmo.
- Entendi. A senhora não devia gostar muito dela, não é mesmo ?
- Quem é que gosta de ter uma barata por perto ?
E continua o interrogatório...
- A senhora conhece alguém que tinha motivos para matá-la ?
- Claro ! todo mundo.
- Ela era tão ruim assim ?
- Asquerosa eu diria.
- Como ela vivia ?
- Pelos cantos.
- Tinha amigas, parentes ?
- Nossa ! quantos !
- Quando foi a última vês que à viu ?
- Olho para ela o tempo todo.
- Entendi, ela ainda está bem presente ainda.
- Pode se dizer que sim. Vocês não querem vê-la ?
- Vamos deixar isso para a perícia.
- Tem certeza ? pode não ser necessário.
- Minha senhora, temos de seguir um protocolo. À propósito, a senhora poderia nos acompanhar até a delegacia ?
- Para quê ?
- Temos de fazer uma comunicação formal de um assassinato da dona... como era mesmo o nome dela ?
- Asquerosa (responde jorjão, soluçando).
- Minha senhora, preciso do nome verdadeiro dela.
- Barata tem nome ? Meu filho chamava ela de asquerosa.
- O que ela era sua ?
- Nada.
- E porque o seu filho era tão próximo dela ? Tanto que está até transtornado.
- É da natureza dele, desde que nasceu.
- Onde está mesmo o corpo dela ?
- O senhor não vai acreditar. (o policial estava quase pisando nela).
- Bom, precisamos ir à delegacia fazer a ocorrência.
- Por causa de uma barata ?
- Minha senhora, por mais repugnante ou asqueroso, que seja alguém, precisamos notificar o seu desaparecimento ou sua morte.
- A senhora têm os documentos da vítima ? alguma identificação ?
- Seu policial, pra mim, era como se ela não existisse. Como vou ter algum pertence dela ?
- Ela não portava nada consigo ?
- Sómente aquela aparência asquerosa e repugnante.
- Minha senhora, tenha paciência, logo a senhora se livrará de vês dela.
- É o que o senhor pensa. Longo, os parentes dela estarão por perto.
- Qual a relação do seu filho com a vítima ?
- Passatempo, distração.
- Bom senhora, nós vamos andando. A senhora vai nos acompanhar ?
- É realmente necessário ?
- Já disse, precisamos registrar a ocorrência.
- Mas vocês nunca fizeram isso com os parentes dela que já morreram...
- Provavelmente por que não houve denúncia e sabe-se lá onde deixaram o corpo.
- Onde mais ? No meio da rua.
- Não creio que as pessoas sejam tão insensíveis. (responde o policial).
- Pode apostar que são. Matam, largam alí mesmo e vão embora. Eu já vi muitos fazerem isso.
- E porque não denunciou ?
- Pra quê ? São tão insignificantes. Aposto que até o senhor teria coragem de fazer o mesmo.
- Está enganada. Nunca, jamais faria uma coisa dessas. (afirma o policial com toda convicção)
- Policial, estamos falando de uma barata.
- É impressionante a forma como a senhora retrata a vítima.
- Quer dizer então que o senhor jamais mataria uma barata ?!
- A senhora comporte-se ou terei de prendê-la por desacato.
- Por causa de uma barata.
- Agora já chega. Eu vou ficar lá fora esperando a perícia.
- Já posso me livrar dela ?
- Não mexa na vítima em hipótese alguma. (Responde gritando o policial).
De repente uma barata cruza o caminho do policial que pisa e esmaga sem dó nem piedade.
- O senhor não me disse que jamais faria isso ? Pergunta dona Geralda indignada.
- Mas é apenas uma barata.
- É ? E o que é isso que está no meu tapete esmagado, que o senhor está querendo até chamar a perícia para descobrir quem matou ? Aproveita, chama o rabecão e diz que agora são duas.
Amadeu Epifânio
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