Humildade / Acolhimento / Transformação
Tenho visto e acompanhado o trabalho de Evangelização daqueles se propõe à divulgar a palavra de Deus, como discípulos de Cristo. No entanto, tenho percebido, nestas mesmas pessoas, a ausência de características essenciais que, sem as mesmas, a "palavra" não alcança seu objetivo maior, que é o da percepção, entendimento e, por fim, a prática. Que adianta acolhermos a palavra de Deus se não à convertemos em ações, primeiramente em nós mesmos e depois, para com nossos irmãos e semelhantes. É preciso que a palavra se manifeste antes, em nós mesmos, para que possamos valer-nos dos Dons (acima) para evangelizá-la.
Primeiramente, não podemos dar conselhos à uma pessoa que nos pede ajuda, sem antes sabermos a razão do seu pedido, sendo, portanto, necessário antes, a explanação dos respectivos fatos. No entanto, apenas tomar ciência dos fatos ainda não será suficiente para ajudá-la, se não manifestarmos em nós o desejo de ajudá-la, do contrário correremos o risco de dar conselhos "vazios" e sem nenhuma consistência solidária. Em terceiro lugar, ouvir e desejar ajudar não será o bastante se, não soubermos aplicar, transformar a palavra para o entendimento específico do problema, pelo qual passa aquela pessoa.
Vemos aí a colocação dos Dons (não para uma boa evangelização mas...), para uma evangelização eficaz, isto é, ouvindo, acolhendo e transformando a palavra, eternizando-a em aplicabilidade constante, para atender demandas, como emocionais, educacionais, psicológicas, conflitantes, dolorosas e sofredoras e, em diversas faixa etárias.
O Dom da Humildade é essencial, porque ele nos permite não pôr a carroça na frente dos bois, querendo dar conselhos antes mesmo de ouvir. Ele também deveria nos ajudar a colocar as palavras certas, mesmo quando não nos sentimos capazes de ajudar. A maioria das pessoas, nestes casos, apelam para o famoso "panos quentes", que além de não ajudar muito, podem acabar "queimando" ainda mais. Melhor então que se diga para uma pessoa necessitada de ajuda ou conselhos:
"-Olha, lamento pelo o que está passando, gostaria muito de poder lhe ajudar, mas não sei como (ou não tenho como)".
Acolhimento é aceitação. Primeiramente de Deus, porque estaremos nos propondo à divulgar a palavra, sendo imperativo que Deus esteja presente e mais do que isso, que se estabeleça a ligação espiritual para com Ele, porque quando estivermos usando o dom da transformação, necessitaremos da inteligência da Deus para converter a lição da palavra em aprendizado para quem às ouve, percebendo cada um, à sua necessidade e entendimento. Para que isso seja possível, é primordial o uso da nossa experiência de vida, sendo ela a responsável direta por ouvir e perceber, todas as nossas deficiências, provenientes de um mundo conturbado, desafiador, consumista, de poucas referências, adúltero, competitivo, desleal, etc.
Todos temos nossas fraquezas, motivadas por um emocional carente e solitário, tendendo à preenchê-lo das formas mais estranhas, vis, promíscuas, perigosas, gananciosas, agressivas (quando não violenta), roubando bens, vidas, sonhos, etc.
Portanto, não são poucos os fatos à serem trabalhados pelos os que se propõem à evangelizar. Cada pessoa que se aproxima de nós ou comparece à uma missa, à um culto, palestra ou grupo de oração, de alguma forma é vítima desse mundo conturbado e está buscando uma forma conviver sem se perder ou está buscando resposta para algum ente ou amigo que já se perdeu.
Ouça, acolha, transforme. É provável que haja resistência em se querer ouvir a palavra de Deus (de tanto tempo distante) e portanto, ainda descrente.
Nesses casos, é preciso antes fazermos o papel de João Batista, ou seja, preparar o caminho dos que se encontram na escuridão, para depois oferecer a "luz" da palavra. Mesmo desta forma, estaremos ouvindo (percebendo a necessidade), acolhendo sua demanda e transformando sua angústia em perspectiva. Solução é conseqüência. Lembre-se que o trabalho de evangelização é como levarmos um copo d'água à boca dos que "tem sede" (como diz o Padre Jonas, da Canção Nova), lembrando que não podemos beber por eles.
Os Dons da Evangelização não se aplicam somente ao próximo, mas também à nós mesmos. Ouvir-nos, conhecer-nos melhor, entender nossas mudanças, saber nossas limitações, para descobrir o que nos impede de avançar. Acolher à Deus em sua plenitude, espírito e sabedoria. Apresentar-se, conversar, dividir, compartilhar, reconhecer nossa impotência e fragilidade diante da dor e do sofrimento. Pedir à Deus o dom da sabedoria para entender o momento e tirar dele a lição para entendê-lo, pois nada nos acontece que não seja uma forma de nos passar uma lição, para adquirir sabedoria. Eis o dom da nossa transformação. Só precisamos parar para entender, aceitar e usufruir dos resultados. Mesmo o metal mais duro se curva ao calor excessivo. Portanto, fraqueza não é vergonha.
Somos tanto, beneficiários como promotores da Palavra, estamos sempre de ambos os lados, disponíveis à passar, receber e usar os Dons para evangelizar, tanto à outrem quanto à nós. O primeiro passo já foi dado, tomar ciência e, fazer uso, irá depender dos dons... do livre arbítrio.
Que a Benção e Sabedoria de Deus seja a Luz necessária para essa nova jornada.
ProfAmadeu Epifânio
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