Esquizofrenia


A história de um portador (Parte 1)

Desde a infância José Alberto Orsi convive com a esquizofrenia. O histórico da doença é familiar, seu pai Benito José Orsi também tinha o diagnostico de esquizofrenia, porém o tratamento nesta época ainda era precário, submetendo o paciente a tratamentos com choque elétrico e insulina. José Alberto se lembra bem destes tempos difíceis, “Lembro claramente do assombro que a doença de meu pai me causava, e do medo que eu tinha quando ele surtava e tinha crises de choro, pois seu humor mais recorrente era mesmo a depressão”.

Depois da morte do pai em 1980, José Alberto passou a ter uma vida relativamente normal. Formado em engenharia civil pela Universidade de São Paulo (USP), ele começa a enfrentar os primeiros sintomas de depressão crônica em 1994, em um período conturbado por muitos acontecimentos.

Sua visão existencial passava por uma reformulação, José Alberto freqüentou um instituto esotérico que estudava fenômenos de desdobramento astral – onde o espírito sai do corpo físico – essa experiência causou grandes alterações emocionais e psíquicas, levando ele a tentar o suicídio pela ingestão exagerada de medicamentos. Essa fase se iniciou em 1994 durou até maio de 1995; afastado do trabalho, ele decidiu sair do país, e foi para Mississipi nos Estados Unidos estudar inglês. Os sintomas da doença já estavam mais amenos, mesmo com a suspensão da medicação receitada pelos médicos.

De agosto de 1995 a maio de 1998, José Alberto não apresentou nenhum vestígio dos sintomas das crises depressivas que tinha enfrentado no Brasil, e sem o uso de remédios; com o apoio dos amigos e familiares, ele vivia o melhor tempo de sua vida. Porém em maio de 1998, alguns acontecimentos estranhos passaram a acontecer na vida de José Alberto. Passando pelo um grande estresse, no programa de MBA (Master of Business Administration), José Alberto passou por uma série de “fenômenos” que eu dizia ser sobrenatural ou de natureza esotérica.

Ele acreditava que estava sendo perseguido pela CIA (Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos), e que recebia mensagens telepáticas da televisão e da internet, que seu telefone estava grampeado e que esses órgãos de inteligência podiam ler a sua mente.

Com o passar dos dias suas atitudes estranhas começaram a chamar a atenção dos vizinhos. Em uma manhã de terça-feira, José Alberto “incorporou” Adão, ele acreditava que era o escolhido para repovoar a terra e ser o novo Messias, salvador do século XX. Ao ser abordado pelo jardineiro e o gerente do condomínio, José Alberto percebeu que tinha chegado o momento da revelação. “Rapidamente me despi e corri nu, até mergulhar na piscina, que ficava em frente ao meu apartamento. Para meu espanto e desgosto, a primeira pessoa que eu vi ao sair da piscina era um policial vestido todo de preto. Ele me algemou e me conduziu até uma ambulância. Mas não desistia. Julgava que aquilo era uma “pegadinha” da CNN, empresa jornalística da qual eu seria herdeiro. O hospital era apenas um local de depuração para a minha limpeza energética, já que eu era o Messias”.

Após ser levado pelos policiais ao um centro médico e passado por uma serie de exames, ele foi conduzido a uma cela com aparatos médicos; passados duas semanas, José Alberto passou por momentos de euforia e depressão. Sua irmã conseguiu que ele fosse removido de Mississipi para Miami, onde passaria por um médico psiquiatra particular. Ao passar por esta consulta veio o diagnostico: Esquizoafetividade – uma mistura de sintomas da esquizofrenia e dos transtornos de humor – a partir deste momento ele teria que seguir tratamento médico pelo resto da vida.

O diagnostico foi encarado com muita decepção, pois além do tratamento medicamentoso os médicos afirmaram que dificilmente ele teria condições de exercer algumas de suas funções, em especial aquelas que envolvessem muito estresse; a sua vida tomaria outro rumo dali por diante. José Alberto voltou ao Brasil dar continuidade ao tratamento sem terminar o MBA. Porém a psiquiatra que havia tratado dele em 1995, não concordou com o diagnostico feito pelos médicos americanos, e no final de 1998 ela retirou todo o antipsicótico do tratamento, receitando apenas um regulador do humor.

Em 1999, ele voltou ao Mississipi para concluir o MBA, nesse tempo ele cortou por canta própria o regulador de humor receitado pela psiquiatra brasileira. Ao terminar o MBA, José Alberto se mudou para Flórida (Estados Unidos), se sentindo bem sem o uso dos remédios, ele resolveu morar em Redmond, estado de Washington, para trabalhar na Microsoft americana, depois de dois meses ele se desentendeu com um colega de trabalho e pediu demissão. Confuso, ele voltou a Miami para procurar emprego, mas ao cruzar o estado de Montana, ele passou por mais um surto e foi capturado pela polícia local, que o encaminhou a um hospital psiquiátrico.

Ao voltar ao Brasil, ele passou por mais uma internação, porém com o diagnostico de bipolaridade. Ao sair da internação, ele passou quase um ano e meio sem sair de casa, e sem tomar nenhum antidepressivo; até que em maio de 2001 ele deu inicio a sua quarta crise. Foi nesta internação que os médicos se convenceram que ele era portador de esquizoafetividade, passando então a fazer o tratamento medicamentoso para este tipo de transtorno.

Desde então José Alberto vem tentando superar as dificuldades impostas pela doença. Nos últimos anos ele vem tentando retomar a vida acadêmica; no final de 2004, ele tentou entrar no curso de Ciências Sociais da USP, mas não conseguiu passar para a segunda fase do exame; nos anos de 2004 e 2005 ele se preparou em um cursinho pré-vestibular para prestar a Fuvest, mas desistiu de prestar a prova na última hora.

Depois do diagnostico, ele passou a se sentir mais inseguro, ele acabou se isolando, hoje ele foge de algumas situações impostas pela vida, evitando o contato especialmente com mulheres. Com o uso da medicação antidepressiva, José Alberto engordou mais de 30 kg, mudando não só sua aparência física, mas principalmente a sua maneira de se relacionar com as pessoas.

Por: Luciene Ramos



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